sábado, 1 de janeiro de 2011

Obesidade e Doenças Hepáticas


         A obesidade é fator de risco para diversas outras doenças, como diabetes tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemias, resistência insulínica e doenças cardiovasculares, mas a obesidade também pode ser fator de risco para o desenvolvimento de doenças hepáticas, e esse assunto é o que vamos ver neste post.



           Os adipócitos têm uma grande capacidade de estocar energia em forma de lipídeos, e esses podem ser metabolizados rapidamente em ácidos graxos ou ser usados como substrato para geração de ATP. Essas células também têm grande capacidade de se comunicar com outros tecidos e secretar hormônios, comumente referidos como adipocinas.

              Há uma íntima relação entre o tecido adiposo visceral e o fígado e isso é devido as suas comuns origens. Nota-se que ambos tecidos têm similaridades no metabolismo, as suas células (adipócitos e hepatócitos) têm estreita proximidade com células imunes (células NK e NKT), células de Kupffer, células endoteliais ou macrófagos, as quais têm acesso imediato a uma grande rede de vasos sanguíneos. A partir desses aspectos, ambos tecidos formam um sutil ambiente para uma interação dinâmica entre respostas imunes e metabólicas. E, portanto, essa relação contribui para o desenvolvimento de doenças, principalmente no contexto de obesidade e diabetes tipo 2.

 
         O tecido adiposo visceral secreta a maior parte de ácidos graxos livres, hormônios e adipocinas, e essas últimas podem influenciar a função do tecido hepático, como por exemplo o fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa), o qual pode atuar na progressão de uma simples esteatose a uma esteatohepatite não alcoólica (NASH), pela indução de apoptoses e respostas inflamatórias dos hepatócitos. Isso acontece quando o TNF-alfa ativa o fator nuclear Kb via receptor de TNF (TNF-R1) como um fator de transcrição central para muitas citocinas pró-inflamatórias, além de induzir a lipogênese nos hepatócitos, levando a um acúmulo de lipídios na região. Por isso o fator de necrose tumoral alfa é um dos fatores críticos para a ocorrência e progressão da NASH e da doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD).

Fig. 1. Influence of visceral adipose tissue on NAFLD. Visceral adipose tissue secretes a variety of proteins, known as adipokines, which can influence the liver. FFAs play a major role in the development of simple steatosis. With the influence of adipokines like TNF- alfa , simple steatosis can progress to NASH by induction of apoptosis and inflammation. Apart from adiponectin, which can prevent the development of NASH, cirrhosis and even HCC, most adipokines exert a negative influence on liver diseases. An elevated BMI may increase the incidence of many cancers, includingHCC. 


         A obesidade está fortemente associada à doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD), a qual tem se tornado uma doença comum em países norte americanos, com aproximadamente 30% da população afetada. Tal doença é caracterizada por uma esteatose hepática, porém com abstenção de um histórico etílico, o que leva a considerar que o fator de risco principal para essa doença é a obesidade.

          Existem dois tipos de NAFLD, a primária e a secundária. A primária é proveniente de uma síndrome metabólica, e a segunda é devida a infecções, ingestão de medicamentos, alimentação parenteral ou por raras doenças metabólicas de origem congênita. Histopatologicamente, a NAFLD pode aparecer como uma simples esteatose hepática ou com reações inflamatórias definidas como NASH com ou sem aparecimento de fibrose.

            Aproximadamente 10% dos pacientes com NAFLD desenvolvem o NASH e cerca de 8 a 26% dos pacientes com NASH progridem para uma cirrose. Tais pacientes estão em alto risco de desenvolverem um câncer hepatocelular (HCC), hipertensão portal, sangramento gastroesofágico, ascite e insuficiência hepática.


                             Fig 2: Hipertensão portal

         É importante compreender o papel da obesidade, a desordem metabólica e a lipotoxicidade que a doença pode provocar e a partir disso desenvolver tratamentos ao combate da obesidade de forma saudável e segura. Nos próximos posts iremos falar sobre as diversas doenças que a obesidade traz consigo. Confira!


                                                                      Post: Priscilla Dantas


 
Referências:

WREE, Alexander; KAHRAMAN, Alisan; GERKEN, Guido; CANBAY, Ali. Obesity Affects the Liver – The Link between Adipocytes and Hepatocytes. Digestion 2011;83:124–133. Department of Gastroenterology and Hepatology, University of Duisburg-Essen, University Clinic Essen, Essen , Germany.



Um comentário:

  1. Realmente gordura só faz mal. E não só a aparência que fica prejudicada, o funcionamento do nosso organismo também. A chamada fígado gordo é uma doença mal da modernidade, digamos assim. Pois a correria do dia a dia e os maus hábitos alimentares acabam sobrecarregando o fígado, que com gordura em excesso, fica doente. Por isso, precisamos vigiar nossa alimentação não apenas por causa da beleza, mas para cuidar da saúde do nosso fígado.
    Mas para quem já está na fase de transplante ou conhece alguém que está na lista, vou deixar uma dica para ajudar.

    http://bit.ly/9BOkxF

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