sábado, 29 de janeiro de 2011

Intervenção Dietética no Tratamento da Obesidade

          A terapia nutricional em pessoas obesas baseia-se na intervenção das causas originais da obesidade, como alimentação inadequada e sedentarismo. Como sabemos, muitos obesos são portadores de síndrome metabólica, e uma dieta específica deve ser prescrita visando o controle glicêmico, a diminuição da resistência insulínica, e conseqüentemente diminuição do fator de risco de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2.

          As mudanças no estilo de vida devem ter o objetivo de perda ponderal moderada e progressiva, aliando a dieta e atividade física. Para que haja a perda de peso, deve-se diminuir o VET (Valor Energético Total), que é a quantidade de calorias ingeridas na alimentação em um dia, e aumentar o GET (Gasto Energético Total), que é principalmente o nível de atividade física. Porém é importante que a perda de peso vise maior perda de gordura corporal, por isso é importante escolher os alimentos adequados e exercícios físicos específicos. Deve-se ter como foco inicial, a mudança qualitativa e quantitativa dos macronutrientes afim de estabelecer harmonia e adequação à dieta individualizada.

         Carboidratos

         Dietas hiperglicídicas estão associadas ao aumento das concentrações plasmáticas de glicose e de triglicerídeos, tais acontecimentos podem ser minimizados se a digestão e absorção dos carboidratos forem lentas, e isso diz respeito ao índice glicêmico (IG) dos alimentos. Os carboidratos complexos possuem um baixo índice glicêmico e são mais lentamente digeridos, o que faz com que o aumento de glicemia pós-prandial seja gradual. Eles são os cereais integrais, hortaliças, leguminosas e frutas. O consumo desses alimentos devem substituir os carboidratos simples como massas, pães e doces. Essa intervenção leva a uma redução calórica da ingestão, assim como a diminuição do índice glicêmico, e consequentemente da resistência insulínica.



          Lipídeos

         O consumo crônico de glicose e ácidos graxos saturados pode inibir a sensibilidade insulínica. O efeito dos ácidos graxos é variável, elevando a secreção insulínica com o aumento da cadeia e diminuindo com o grau de insaturação. Assim, ácidos graxos de cadeia longa potencializam a secreção de insulina, em resposta à concentração basal de glicose. Além disso, os ácidos graxos saturados podem causar inflamação e resistência à insulina no tecido, por ter a capacidade de ativar a via de sinalização do NF- kB, o que aumenta a expressão de citocinas pró-inflamatórias (IL-6 e TNF- alfa) e, consequentemente, a resistência periférica à insulina.

            É necessário que haja a diminuição do consumo desses ácidos graxos saturados, que estão presentes em frituras, bacons, hambúrgueres, carnes vermelhas, etc. Deve-se fazer uma substituição desses alimentos por aqueles ricos em ácidos graxos poli-insaturados da série ômega 3, ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosaexaenóico (DHA), presentes em peixes e óleos de peixes, pois apresentam ação anti-inflamatória, por diminuírem a atividade dos fatores de transcrição NF- kB e proteína ativadora-1 (AP-1).

         Proteínas

         É importante que haja a diminuição do consumo de proteínas das carnes vermelhas, pois essas últimas são ricas em ácidos graxos saturados. E aliar ao aumento de proteínas de origem vegetal, como as leguminosas (feijões, soja, lentilha, ervilhas), pois essas além de conter teor significativo fibras, possuem menor índice glicêmico e de gorduras. A quantidade de proteínas diárias devem seguir o padrão das DRI´s, (Dietary Reference Intake), onde a quantidade é de aproximadamente 0,8 g de proteínas por quilo de peso corpóreo. Elevadas quantidades de proteínas consumidas podem levar a complicações de sobrecarga renal.

 

           Fibras

            Deve-se ter um consumo adequado de fibras, a sua recomendação de ingestão diária é de 20 a 30g pois elas possuem atributos benéficos ao organismo. As fibras solúveis reduzem o tempo de trânsito intestinal, atuam na diminuição das concentrações séricas de colesterol e melhoram a tolerância à glicose, sendo as responsáveis pela maioria dos benefícios cardiovasculares atribuídos às fibras alimentares. Já as fibras insolúveis não têm ação na colesterolemia, mas aumentam a saciedade, ajudam na motilidade do trato grastrintestinal, auxiliando na redução da ingestão energética. Dessa maneira, o aumento da ingestão de fibras alimentares pode promover a perda de peso.


          É importante que a dieta seja preparada com distribuições de porções adequadas de cereais, leguminosas, frutas, hortaliças, leite e derivados, carnes magras e óleos vegetais. E todos esses hábitos alimentares devem estar aliados à prática de exercícios físicos regulares que visem a perda de gordura corporal e a preservação de massa magra. Essas intervenções, dependendo do grau da obesidade, podem ser acompanhadas de prescrição de fitoterápicos ou fármacos que ajudem na redução do peso, desde que se tenha um acompanhamento médico e nutricional.

         A partir da perda de gordura corporal, por essas intervenções nutricionais, haverá redução da resistência insulínica, de processos inflamatórios, de níveis glicêmicos elevados e de alterações no perfil lipídico do indivíduo. Diminuindo dessa forma os fatores de risco para doenças crônicas, o que leva à melhora de sua qualidade de vida.

                                                     
                                                               Post: Priscilla Dantas


Referências Bibliográficas
GERALDO, Júnia. ALFENAS, Rita. Papel da Dieta na Prevenção e no Controle da Inflamação Crônica – Evidências Atuais. Arq Bras Endocrinol Metab 2008; 52/6. Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa (UFV), MG, Brasil.

BASTOS; ROGERO; ÂREAS. Mecanismos de ação de compostos bioativos dos alimentos no contexto de processos inflamatórios relacionados à obesidade. Arq Bras Endocrinol Metab. 2009;53/5. Departamento de Nutrição, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil.

SANTOS; PORTELA; ÁVILA; SOARES. Fatores dietéticos na prevenção e tratamento de comorbidades associadas à síndrome metabólica. Rev. Nutr., Campinas, 19(3):389-401, maio/jun., 2006

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